O que são ferramentas? Como são utilizadas? Quais ferramentas são boas e quais são ruins? Qual é o caminho para uma equitação saudável?
M.V. Marina Fernandes F. Cervato
Embocaduras, esporas, chicotes, rédeas funcionais. Diversas são as ferramentas que nos ajudam no treinamento de nossos cavalos. Mas o que são ferramentas? Como utilizá-las?
O que são ferramentas?
Pela definição, são utensílios, dispositivos ou mecanismos físicos/intelectuais que fornecem uma vantagem mecânica ou mental para facilitar a realização de uma tarefa. Existem diversos tipos de ferramentas (ex.: broca, softwares, lápis, trenas) e entre elas estão as ferramentas desportivas. Todas elas possuem algo em comum: para que nos forneçam alguma vantagem, precisamos saber para que servem e como utilizá-las. Usar uma escova de dentes para varrer o chão não vai nos fornecer vantagens. Usar um soprador de ar para juntar migalhas que queremos jogar fora não vai nos fornecer vantagens. Saber para que cada coisa foi feita e como funciona é essencial para que nossas ferramentas nos tragam benefícios. Utilizá-las de maneira inadequada pode ser inútil, desnecessário ou perigoso.
Como são utilizadas na equitação?
Pense por um momento e enumere todos os equipamentos que você utiliza quando está interagindo com seu cavalo. Para que cada um serve? Como cada um funciona? Eles estão trazendo benefícios para você e seu cavalo? Eles são todos essenciais? Existem outros que podem substituí-los?
É muito comum vermos vários níveis de cavaleiros e treinadores usando ferramentas sem entender muito bem suas funções e sem perceber as consequências de seu uso. Quando se usa um equipamento, podemos seguir 3 caminhos: 1- devido ao uso, ele perde sua eficácia e se torna necessário um equipamento cada vez mais forte/elaborado para que o cavaleiro consiga receber o benefício esperado; 2- o conjunto se adapta ao equipamento e segue treinando mantendo o nível de interação; 3- conforme o treinamento avança o equipamento vai sendo cada vez menos utilizado, o grau de interação do conjunto e as habilidades físicas aumentam, e a ferramenta torna-se eventualmente desnecessária e passa a ser utilizada esporadicamente ou até mesmo para de ser utilizada.
Isso vale tanto para os equipamentos quanto para a intensidade/quantidade de ajudas(comandos). Para que possamos fugir da primeira situação, devemos ter um amplo conhecimento e sensibilidade para escolher o equipamento ideal para cada situação, além de utilizá-lo com responsabilidade. Quando nos aprofundamos na teoria e aumentamos nosso entendimento, se torna possível uma interação muito mais harmoniosa com nossos cavalos, e com isso aparecem muitos benefícios, tanto para o cavalo quanto para o cavaleiro.
A qualidade da nossa equitação está diretamente ligada à quantidade de ajudas que precisamos fornecer para que nosso cavalo desempenhe o que desejamos. Quanto melhor a conexão, menos ajudas são necessárias.
Quais ferramentas são boas e quais são ruins?
A ferramenta em si, sozinha, não causa nenhum tipo de malefício ou benefício para o cavalo. O que faz com que seu uso siga por um desses caminhos é o humano que está por trás dela e como ele utiliza essa ferramenta. Portanto, a solução para nossas dificuldades na equitação não está somente na escolha de nossos equipamentos, mas sim no treinamento correto do cavaleiro que irá utilizá-los. Esse deve ser o objetivo de qualquer instrutor de equitação.
Qual é o caminho para uma equitação saudável?
Para que a interação homem-cavalo seja harmoniosa/saudável para as duas partes ao mesmo tempo, precisamos ter consciência da nossa responsabilidade perante aos nossos cavalos. Cada segundo que passamos com nossos animais, estamos ensinando algo para eles, e se formos atentos, também estaremos aprendendo.
Mas o que eu preciso saber para educar um cavalo e aprender com ele?
O primeiro passo é entender sua natureza, saber identificar suas emoções, aprender sua linguagem e como se comportam. É um passo essencial e desafiador, pois sempre tendemos a antropomorfizar as atitudes de nossos animais. Muitas vezes relacionamos emoções humanas às suas atitudes, e quando fazemos isso, quase sempre erramos. Cavalos não são maldosos, cavalos não têm “má vontade”, cavalos não se vingam. Sempre existe um motivo muito mais simples para o cavalo não se comportar como achamos que ele deveria, e geralmente a responsabilidade disso é nossa e não percebemos.
Não existe equitação sem que primeiro o cavalo seja compreendido.
Esperamos ao longo dos nossos artigos contribuir de alguma forma para que todos, cavalos e cavaleiros, possam ser mais saudáveis e felizes com nossas interações homem-cavalo.