O que é bitless?

EQUITAÇÃO BITLESS

Tipos de treinamento sem embocadura

Bitless significa “sem embocadura”. Na equitação bitless, não se utiliza nenhum tipo de equipamento dentro da boca do cavalo. São utilizados outros tipos de equipamentos e/ou técnicas para se comunicar e transmitir as ajudas ao cavalo. Algumas variações do bitless são o bridleless (sem cabeçada) e o tackless (sem equipamentos).

 

BITLESS

Existem diversos tipos de cabeçadas bitless, com diferentes mecanismos de ação, atuando em diferentes partes da cabeça. Os possíveis locais de ação são: chanfro, mandíbula e nuca. Cada modelo exerce quantidades de pressão diferentes em cada região. O material utilizado também deve ser levado em consideração, visto que couro, cordas ou metais terão diferentes efeitos ao exercer pressão, dependendo de sua textura, peso e maciez. O treinador deve escolher o equipamento adequado para o conjunto considerando região, intensidade de ação, rapidez do alívio e particularidades do cavalo e cavaleiro.

 

Bridleless

“Bridle” significa cabeçada, e “less” significa “sem”. O treinamento sem cabeçada está dentro das opções da equitação sem embocadura. Pode ser feita com o uso de um cordeo (colar em volta do pescoço), chicotes, targets e comandos de voz. Ao usar o cordeo, seu posicionamento deve ser no terço inferior do pescoço para que não cause dor e traumas na região da traquéia do cavalo. No caso do treinamento com chicotes, assim como qualquer equipamento, seu uso deve sempre respeitar o estado mental do cavalo e não ser utilizado como instrumento de punição/ameaça e para causar dor ou medo.

 

Tackless

“Tack” significa equipamento. Montar sem equipamentos exige boa comunicação e sintonia entre cavalo e cavaleiro. Nesse estilo, não se utiliza nenhum tipo de equipamento para exercer pressão no cavalo, sendo montado sem sela, apenas com comandos de voz e ajudas do cavaleiro.

Alguns cavaleiros utilizam alguns equipamentos na transição para o tackless, como o cordel, mantas ou chicotes.

Porque treinar sem embocadura?

Os principais objetivos são: 1) exercer o mínimo de pressão possível para que o cavalo responda aos comandos; 2) não interferir na articulação temporomandibular (ATM); 3) não interferir na movimentação da língua; 4) não utilizar equipamentos que tem potencial de causar dor por um possível erro do cavaleiro.

1) no processo de refinar nossa equitação, buscamos estabelecer uma equitação com o mínimo possível de ajudas, com leveza e com uma comunicação o mais eficiente possível.

2) a ATM está intimamente relacionada aos músculos de nuca e pescoço, e seu relaxamento e mobilidade são extremamente importantes para a propriocepção, relaxamento e movimentação correta da coluna do cavalo.

3) a língua se conecta ao osso hióide, que está relacionado com a deglutição e respiração, que por sua vez está conectado com os músculos ventrais de pescoço importantes para a movimentação dos membros anteriores. Portanto, tensão na língua pode afetar negativamente todas essas funções. Além disso, em problemas dentários ou outras patologias, montar sem embocadura pode poupar o cavalo de desconfortos e dor.

4) qualquer equipamento pode ser bem usado ou abusado. Uma embocadura pode ser usada sem causar prejuízos ao cavalo se usada corretamente e com habilidade e conhecimento. Porém, nós erramos. Todo cavaleiro comete erros em algum momento, e quando isso acontece, cada equipamento tem um potencial maior ou menor de causar dor e prejuízos ao cavalo. As cabeçadas bitless podem proteger a boca dos cavalos de mãos inexperientes, o que pode causar desconforto e até dessensibilizar o cavalo às ajudas.

 

 

Equipamentos e mecanismos de ação

É muito importante entender como os equipamentos funcionam, como é feito o ajuste correto e ter consciência da quantidade e local da pressão exercidas para evitar desconforto e problemas de comunicação.

Ajustes

As cabeçadas devem ter o ajuste das focinheiras feitos com cuidado. Elas devem se posicionar cerca de 2 ou 3 dedos abaixo do fim da crista facial, dependendo da conformação do cavalo, de forma que não a machuquem e não pressionem o osso nasal em sua região mais frágil. Deve também possuir uma folga de cerca de 2 dedos para possibilitar a movimentação da mandíbula num movimento de mastigação, que é importante para a descontração.

Nos casos das cabeçadas com mecanismos de alavanca, como hackamore inglês, o ideal é que a faceira possua uma cisgola extra para que não se aproxime dos olhos quando a alavanca for acionada.

 

 

Mecanismos de ação

Podemos dividir os tipos de ação em três grupos principais: pressão, compressão e alavanca.

As cabeçadas listadas a seguir não são as únicas existentes nem listadas por alguma ordem de preferência, sendo apenas exemplos ilustrativos dos diversos tipos de modelo.

Pressão

As cabeçadas que exercem apenas pressão, são suaves e transmitem uma ajuda direta em uma região da cabeça do cavalo quando o cavaleiro puxa a rédea. Os locais de ação geralmente são apenas o chanfro e as laterais do focinho. Alguns tipos são:

  • Sidepull
  • Cabresto
  • Cavesson

 

Pressão + Compressão

As cabeçadas que também exercem compressão possuem algum tipo de mecanismo que acentua a pressão realizada pela rédea, podendo se distribuir em outras regiões da cabeça do cavalo como a mandíbula e a nuca. Alguns tipos são:

  • Cross-under
  • Cook Bridle
  • Bosal
  • LG bridle
  • Orbitless bridle
  • Hackamore indiano
  • Transcend bridle

 

Pressão + Compressão + Alavanca

Esses tipos de cabeçada geralmente possuem um poder maior de ação, devendo ser utilizadas com cautela. Além de realizarem pressão e compressão, possuem um mecanismo de alavanca que potencializa a ação das rédeas, exercendo uma pressão maior na cabeça do cavalo. Podem agir em chanfro, mandíbula e nuca. Possuem um mecanismo chamado de “sinal”, que é o tempo entre o momento em que o cavaleiro começa a puxar as rédeas e o momento em que a alavanca começa a exercer pressão na focinheira. O tempo de sinal varia para cada modelo. Alguns tipos são:

  • Hackamore inglês
  • Hackamore mecânico
  • Flower hackamore

Tipos de materiais e pontencial de ação

Além do tipo de ação de cada mecanismo, o material das focinheiras também influencia muito no potencial de pressão a ser exercida. Quanto mais liso e macio, menor será o potencial. Quanto mais rígido e quanto menor a superfície de contato, maior será o potencial.

Potencial de ação, do menor ao maior:

  1. Acolchoados, pelegos
  2. Couro
  3. Cordas macias lisas
  4. Cordas macias trançadas
  5. Cordas rígidas
  6. Cordas com nós
  7. Correntes e metais acolchoados ou encapados
  8. Correntes e metais

Materiais com alto potencial de exercer pressão idealmente não devem ser utilizados pois, assim como embocaduras, têm o potencial de causar desconforto e dor ao cavalo.

 

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TREINAMENTO

Transisção para o bitless

Trabalho de chão

Comece a transição sempre com o trabalho de chão. Trabalhe em um local que seu cavalo ache seguro, como um piquete, redondel ou pista que seja familiar, com outros cavalos à vista para que se sinta mais confiante. Garanta que você também se sinta relaxado e confiante. Peça ajuda sempre que possível, mesmo se a pessoa disponível não tenha tanta experiência. Ter alguém junto com você sempre te ajudará de alguma forma.

Se posicione na frente ou ao lado do seu cavalo, usando a rédea como na montaria, conectada aos dois lados da focinheira, apenas em um dos lados ou na argola do meio de um cavesson.

Com dois dedos em uma rédea, primeiro ‘puxe’ suavemente para o lado – permita que o cavalo ‘sinta’ o movimento e mova a cabeça. Lembre-se de soltar a outra mão enquanto usa a outra rédea. Assim que o cavalo começa a mexer a cabeça, imediatamente alivie a pressão na rédea. Um bom complemento é elogiar e recompensar seu cavalo. Deixe o cavalo voltar a cabeça para o centro e repita após um intervalo de 30 segundos. Repita isso pelo menos 4 vezes antes de mudar para a outra rédea e repetir o processo.

Agora que seu cavalo entende o pedido para virar a cabeça, comece a ensinar a parar e recuar. Faça isso de pé ao lado da cabeça ou espádua, puxando suavemente as duas rédeas para trás até estabelecer um contato leve com o focinho. Quando o cavalo começar a mover um dos membros do sentido de recuar, alivie a pressão. Você pode tocar com uma das mãos no peito do cavalo para ajudar no entendimento da ajuda. Comece pedindo apenas um passo. Quando a resposta já estiver bastante consistente, comece a pedir mais passos gradativamente.

Atente para que o alívio da pressão seja sincronizado com a resposta desejada, por mais que não seja perfeita no início. Somente dessa forma o cavalo irá entender o movimento desejado.

Para ensinar a parar, caminhe ao lado do seu cavalo segurando uma ou as duas rédeas. Puxe para trás para estabelecer um contato e exercer uma pressão leve no chanfro. Associe um comando de voz junto com o comando, que seja específico para ser usado para parar o cavalo. No início, quando o cavalo começar a reduzir a velocidade, alivie a pressão e reforce. Aumente o grau de exigência da resposta aos poucos. Depois, quando o cavalo parar, alivie a pressão e reforce. Não monte o cavalo antes dessa resposta ser consistente.

Treine também círculos e curvas do chão, para que o cavalo entenda as ajudas de rédeas em movimento também.

Ensine o cavalo a ficar parado. O ficar parado exige do cavalo relaxamento e controle emocional. Não monte no cavalo antes que ele aprenda a ficar parado quando necessário. Por questão de segurança, o cavalo deve se manter parado e tranquilo para que o cavaleiro possa montar.

Associe um gesto e um comando de voz para solicitar que o cavalo não se mova. Comece pedindo apenas 1 segundo de duração, aumentando o tempo gradativamente. Se o cavalo se manter parado, elogie e reforce. Se o cavalo se movimentar, peça o auto novamente e comece de novo. Não puna se ele se movimentar, pois o cavalo não irá entender a punição, pode ficar mais agitado e dificultará o aprendizado.

Montar

Quando estiver satisfeito com a resposta do seu cavalo, repita as mesmas dicas anteriores montado, de preferência com o auxílio de outra pessoa do chão e em um ambiente menor e mais controlado como um redondel ou pista pequena. Se não for possível, peça ajuda de outra pessoa para colocar o cavalo na guia longa.

Preste muita atenção para não usar duas ajudas conflitantes ao mesmo tempo, como puxar as duas rédeas e usar as pernas. Isso dificulta o entendimento e pode dessensibilizar o cavalo às ajudas, impossibilitando uma comunicação com leveza.

Não economize comandos de voz. Elogie sempre que o cavalo acertar. Seja consistente e use sempre as mesmas palavras e entonação. Use um comando de voz sempre que pedir uma transição. Isso facilitará o entendimento e possibilita menor uso de pressão.

Parada de emergência: se você perder o controle da velocidade do cavalo, não tente pará-lo se agarrando nas duas rédeas ao mesmo tempo. Peça um círculo e diminua seu diâmetro gradativamente, até o cavalo parar. Se necessário, segure uma das rédeas com as duas mãos.

Principais diferenças COM E SEM EMBOCADURA

Ajudas

Na comunicação com o cavalo sem embocadura, nosso leque de opções de níveis de pressão é menor, por serem equipamentos com um menor potencial de gerar pressão. O cavalo precisa responder a ajudas mais leves e, portanto, mais precisas. É necessário investir na qualidade de nossa equitação para transmitir sinais claros e concisos para o cavalo. Em alguns momentos, o cavaleiro pode ser mais exigido em relação amplitude de movimento ou força, por não possuir uma ferramenta que potencialize a pressão exercida no cavalo.

Controle

Por conta de um menor potencial de exercer pressão, montar sem embocadura pode causar uma sensação de falta de controle. Se um cavaleiro tem dificuldades em controlar o cavalo, provavelmente se enquadra em uma das três situações:

  1. O cavalo não entendeu o que foi pedido
  2. É mais desejável para o cavalo fazer outra coisa ao que lhe foi pedido
  3. O cavalo está evadindo de algo indesejado
  • Quando o problema é na compreensão, a solução é: a) focar no treinamento para ensinar o cavalo o que estamos pedindo, e isso é facilmente corrigido – um bom treinador que compreenda o processo de aprendizagem e que saiba reforçar e sensibilizar a resposta desejada pode ensinar o cavalo as ajudas corretamente; ou b) focar no processo de aprendizagem do cavaleiro, para que aprenda a transmitir as ajudas de forma clara e com tranquilidade.
  • Quando privamos o cavalo de alguma necessidade básica como liberdade ou socialização, ou temos um cavalo com uma quantidade de energia inadequada, podemos encontrar dificuldades de condução, pois o cavalo irá buscar satisfazer essas necessidades durante o treinamento. Um cavalo com pouca energia terá dificuldade em realizar exercícios que exigem mais esforço. Um cavalo com muita energia acumulada, terá uma tendência a querer se movimentar mais do que o cavaleiro deseje. Um cavalo que não está acostumado com a presença de outros cavalos ou com se afastar de seu grupo, pode apresentar estresse e ansiedade no treinamento, dificultando a condução.
  • Quando o cavalo passa por uma situação desagradável, ele tentará evitar essa situação no futuro. Se algo está gerando incômodo ou dor, pode reagir para tentar se livrar desse desconforto. Nesse caso, devemos identificar qual é a causa para poder solucionar o problema. Se o problema é medo de algum estímulo, o cavalo terá que passar por um processo de dessensibilização e/ou reassociação positiva. Se o cavalo sente dor por conta de uma lesão ou equipamento inadequado, deve ser feito o tratamento e/ou ajuste dos equipamentos antes de qualquer coisa. Essa situação deve ser a primeira a ser avaliada e descartada antes de passar para qualquer outra suposição quando encontramos algum problema.

CONTATO

No adestramento clássico, se prioriza uma postura do cavalo e cavaleiro constante e estável, de forma que as ajudas fiquem pouco visíveis e que exista uma sensação de que o cavalo está desempenhando os movimentos “sozinho”. Uma das características dessa postura, é um contato constante entre a boca do cavalo e as mãos do cavaleiro.

 

Nas cabeçadas bitless, por conta de seu mecanismo e locais de ação, não é indicado que o cavaleiro mantenha um contato exercendo uma pressão constante no chanfro do cavalo, pois poderá gerar uma dessensibilização às ajudas e diminuirá o leque de opções de ajudas quando o cavaleiro precisar transmitir uma informação ao cavalo. Isso pode ser acentuado nas cabeçadas sem o mecanismo de “sinal” e com materiais mais rígidos. Para um contato mais constante, prefira focinheiras muito bem acolchoadas. Para uma menor movimentação das mãos do cavaleiro, utilize cabeçadas com mecanismo de alavanca.

Quando montar com embocadura?

A prioridade sempre deve ser a segurança de cavalo e cavaleiro, seguida pelo bem-estar geral do cavalo. A utilização correta das embocaduras não traz um prejuízo para o bem-estar do cavalo, mas deve ser feita com responsabilidade. Qualquer ferramenta pode ser bem usada ou abusada.

As embocaduras podem auxiliar cavaleiros inexperientes em seu processo de aprendizagem, sempre com cautela para que não causem desconforto ao cavalo caso cometam erros. Também podem auxiliar cavaleiros experientes na correção postural de cavalos que necessitem de reabilitação e para prevenir lesões decorrentes de uma postura prejudicial e restrições de movimento.

Nos casos de uma desproporção muito grande entre cavalo e cavaleiro, como no caso de crianças montando cavalos ou cavaleiros com um cavalo de porte muito grande e muita força, as embocaduras podem ser usadas adequadamente.

Cavalos com traumas e problemas comportamentais devem ser treinados por profissionais experientes, para que possam identificar a real causa dos problemas e realizar as correções necessárias no treinamento ou equipamentos, visto que nessas situações as embocaduras podem tanto ser um auxílio quanto um agravante e acabar acentuando o problema.

Em alguns casos raros, a embocadura pode ser mais confortável para um cavalo que sofra algum incômodo com cabeçadas bitless por conta de suas focinheiras e algum tipo de hipersensibilidade ou patologia.

Lembre-se: nada substitui a boa equitação. Os equipamentos são apenas auxiliares, e sem estudo e treinamento, sua escolha de ferramenta não fará diferença no seu resultado a longo prazo.

 

Junte-se a comunidade bitless!

Site da World Bitless Association

Instagram da World Bitless Association Brasil

Grupo do Whatsapp World Bitless Horse Day

 

Guarde essa data:

 

4 thoughts on “O que é bitless?”

  1. Olá, um cavalo sem embocadura, futuramente precisará de embocadura? E em provas equestres, os animais podem participar sem embocadura?
    Muito agradecida

    Rosana Santos

    1. Olá!
      Algumas provas equestres exigem o uso da embocadura, mas a maioria não exige. Depende da modalidade e categoria do conjunto. Teria que checar o regulamento.

Os comentários estão fechados.